Garimpagem Cultural

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domingo, 12 de setembro de 2010

Filmes raros e antigos de graça na internet. E legais.


Por: Paulo Rebêlo (reportagem) 

Filmes que caíram em domínio público podem ser baixados legalmente em sites como Veoh, Eol e Public Domain Torrents. Há muitas raridades e várias obras dos anos 60 e 70.

Os amantes do cinema clássico acabam de ganhar fortes aliados na internet. A partir de um movimento de resgate cinematográfico que usa a web para divulgar filmes raros, qualquer pessoa pode se tornar um colecionador profissional, sem precisar pagar pequenas fortunas.

São filmes que caíram em domínio público ou tiveram o direito autoral expirado, hoje disponíveis gratuitamente na web para download ou visualização em tempo real – de forma completamente legalizada.

Imagine as primeiras séries de Flash Gordon, as primeiras encenações de O Fantasma da Ópera, clássicos de Cary Grant e iguarias do cinema europeu e asiático, tudo à distância de um clique.

Sabe aquele filme que você assistiu há 30 anos e, na época, já era considerado “antigo” e depois, nunca mais achou em locadora ou em qualquer outro lugar? Pois saiba que raridades assim podem estar, neste exato momento, em processo de digitalização e indo para a internet, em um processo legal e sem a alcunha de pirataria. Empresas americanas e entusiastas da sétima arte estão vasculhando arquivos públicos, em busca de filmes cujo status seja de domínio público, para transformar da película para formato digital.

É um processo similar ao que ocorre com livros, músicas e outras obras autorais. A depender da lei de cada país, após um determinado período de tempo (décadas), o copyright do filme expira e ele pode ser exibido em público sem o pagamento de direitos autorais.

Três empreendimentos se destacam: o Veoh, um dos serviços mais profissionais e organizados; o Emol, que é meio bagunçado, porém mais fácil para encontrar relíquias do cinema e raridades exóticas; e o Public Domain Torrents, por onde os usuários podem usar o software/protocolo Bittorrent para fazer o download legalizado de filmes para assistir no DVD, no iPod e até mesmo no Playstation Portátil.

Apesar de o enfoque dos sites ser de filmes antigos, há várias obras dos anos 60 e 70 também disponíveis sem copyright, com atores consagrados da “Sessão da Tarde”. Sonny Chiba, Richard Chamberlain, Lee Van Cleef e Chuck Norris, por exemplo, também figuram entre os principais destaques do Public Domain Torrents, em filmes de ação que se perderam no tempo.

Legalidade conquista adeptos

Ao entrar no mundo dos filmes raros, você também conhecerá um pouco da história do cinema se tiver curiosidade de pesquisar. Vários são ganhadores de Oscars ou, no mínimo, receberam premiações internacionais ou se consagraram com o público da época.

É possível encontrar o primeiro registro de O Fantasma da Ópera (1925), A Marca do Zorro (1920) e relativamente recentes como A Noite dos Mortos-Vivos (1968). Tudo gratuito, com a opção de fazer download para o computador e, depois, gravar para assistir no DVD da sala.

Foi movida por um simples trabalho de faculdade que a designer de jogos Drussila Hollanda tornou–se colecionadora de filmes clássicos de terror e, principalmente, da época do expressionismo alemão. “A dificuldade sempre foi encontrar os DVDs, ou até mesmo em VHS, mas pude conferir que muitos filmes que procurava são de domínio público e estão nesses sites para download”, comemora. Drussila ainda gosta de garimpar os sites do Mercado Livre, do eBay (leilão virtual) e as livrarias em busca das raridades.

Outro colecionador amador é Fernando Vasconcelos, bastante conhecido pelos cinéfilos pernambucanos por ser o autor do Kinemail, boletim e site especializado em crítica dos filmes em cartaz na cidade. “No meu caso, só coleciono os medalhões, como filmes de Sergio Leone, Billy Wilder e outros famosos, então é mais fácil encontrar nas lojas. Obras menos conhecidas, de fato, não dá para achar por aqui”, lamenta.

E é justamente esse público de usuário que faz a festa nos sites do Public Domain Torrents e Emol, principalmente.

Aprenda a assistir o filme escolhido

Nos três sites analisados pela Folha de Pernambuco Informática, os filmes estão à distância de um clique ou após um rápido cadastro, também gratuito, como é o caso do Veoh. No Emol, há três opções de qualidade: baixa, média e original. A baixa é para assistir apenas por curiosidade, com a qualidade de imagem ruim. A média, com um pouco mais de nitidez. E a original, é o arquivo bem grande (600 a 700 Mb) com o filme inteiro, que pode ser guardado no computador ou gravado para DVD ou CD.

Para colecionar ou assistir ao filme confortavelmente, com imagens melhor definidas, com resolução superior, o ideal é escolher a melhor qualidade. Lembre-se: a maioria dos filmes são regravações dos originais em 16mm (película), ou seja, independentemente do fator “qualidade” na opção do download, a imagem nunca será igual a um DVD comercial. É quase como um programa gravado da televisão ou um VHS antigo. Tudo é bastante variável, visto que há filmes mais conservados e outros, nem tanto.

Sem a web, gravações seriam quase impossíveis

O diretor do Veoh, Dmitry Shapiro, explica que o site começou como um aglomerado de filmes amadores. As pessoas fazem um curta–metragem e adicionam ao banco de dados da empresa, separado por categorias e votação popular. Shapiro notou uma demanda crescente por clássicos de Hollywood e, desde o mês passado, começou a oferecer obras com status de domínio público, sem problemas com a lei.

Somente na base do Veoh, são 90 filmes “cult” em domínio público. “Se não fosse a internet, as pessoas não teriam acesso a essas raridades. Achá–los é bastante difícil, colecionar, então, é quase impossíve”, alegra–se Shapiro, acrescentando que a vida dos colecionadores agora vai ficar bem mais fácil.

Quem é especialista em dificuldade para conseguir obras raras é o colecionador Cláudio Brayner, dono da Classic Video, com um acervo pessoal que ultrapassa 11 mil filmes. “Comecei em 1985, pouco depois do surgimento do videocassete. Foram anos de noites e madrugadas acordado, gravando filmes da TV aberta e fechada para o vídeo”, relembra Brayner, considerado pela crítica especializada como um dos maiores colecionadores do País.

“Aqui no Brasil só existem mais quatro ou cinco pessoas com um acervo similar ao meu”, adianta. Na opinião do Brayner, com o advento do DVD ficou bem mais fácil colecionar filmes e a internet facilita mais ainda. Até a metade dos anos 90, ele aumentava a coleção trazendo filmes em viagens para o exterior ou em feiras internacionais de cinema.

Tanta dedicação não é fácil. “Meu acervo fica numa sala climatizada, onde ninguém tem acesso, somente eu. Não empresto, não alugo e não vendo”, antecipa Brayner, que também faz gravações por encomenda e disponibiliza uma lista no site da locadora.

De olho no conteúdo agregado

Assim como ocorre na eterna discussão sobre CDs piratas, com os filmes não há tanta diferença sobre o gosto do consumidor, principalmente para quem gosta de guardar capas e material adicional. “Eu nunca baixo filmes da internet, só compro em lojas, porque sou daqueles que gostam de ter a capa, as caixinhas e tudo que tenho direito”, explica Fernando Vasconcelos, do Kinemail.

O colecionador Lula Cardoso Ayres Filho, responsável pelo acervo com mais de 3 mil filmes em película do Instituto Lula Cardoso Ayres, também não simpatiza com a idéia de fazer download dos filmes. “Mesmo o filme sendo de domínio púbico, eu prefiro comprar. Mesmo sabendo que não é pirataria, prefiro pagar pelo trabalho autoral, pelo conteúdo agregado”, diz.”Acho a iniciativa bem interessante. Ver no computador as obras clássicas é muito válido como conhecimento, mas não simpatizo muito com a idéia de não pagar”, completa Ayres, que sequer pega filmes em locadora.

“Não alugo. Se gosto de filme, prefiro comprar para colecionar. E hoje em dia, com TVs por assinatura e canais especializados em filmes, não vejo necessidade de locadoras”, opina. Ayres recomenda o site Internet Movie Database (IMDB), o Silent Era (especializado em cinema mudo) e, para compras, a Amazon. “É incrível como encontramos raridades na Amazon, com qualidade excelente de imagem e a um preço bem barato”. [Webinsider]

(com Folha de Pernambuco).

Sobre o Autor

Paulo Rebêlo (rebelo@webinsider.com.br) é subeditor sênior do e cronista bissexto na.


 Publicada em: 23/03/2006 0:00

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